Por Rosana Sun
Dia a dia o que nos mantém ativos – e vivos – são as conexões. Com o nosso interior, o trabalho, com as pessoas. Entendi a importância deste tema ao longo da carreira, e fazendo um resgate do passado, percebi as razões que me encaminharam para a atual ocupação: Consultora de Desenvolvimento Organizacional e Lideranças e Coach.
Foi, de fato, a minha habilidade de lidar com pessoas e entender seus caminhos que fez com que eu me tornasse diretora de multinacional tão jovem, com apenas 34 anos de idade; Hoje, aos 48, consigo entender de onde esta qualidade tão importante no mundo corporativo, na atualidade, foi originada: Em minha própria casa.
Trabalho em Família
Para entender a habilidade, é preciso voltar um pouco em minha história particular. Sou filha de um casal oriental: Meu pai é chinês e minha mãe, taiwanesa. Eles vieram para o Brasil sete anos antes de eu vir ao mundo. Como todo descendente de imigrantes orientais, aprendemos – meus irmãos e eu – desde cedo que devemos fazer o nosso trabalho sem “incomodar ninguém”.
Foi com a sutileza e trilhando os próprios caminhos, que meus pais abriram um bazar com multi coisas, e uma loja com produtos para bebês, que ficavam na região oeste de São Paulo. Desde cedo, então, passei a entender como funcionava o comércio, porém às vistas da minha família. Trabalhar sempre foi sinônimo de estar em casa, e isso acabou sendo refletido para os meus anos posteriores, após ingressar no universo corporativo.
Foram as lojas que possibilitaram inclusive que meus irmãos e eu estudássemos e trilhássemos caminhos pouco diferentes dos nossos pais; Eles, inclusive, sempre fizeram questão de que aprendêssemos principalmente idiomas, para que não tivéssemos dificuldades nas conexões interpessoais em qualquer lugar do mundo.
Primeiras lideranças e o diferencial humanizado
Para chegar a entender meu diferencial nas lideranças, também passei por caminhos de pedras com outros líderes. Quando virei diretora, aos 34 anos de idade, passei por dois tipos de discriminação em uma das multinacionais em que trabalhei.
Um dos diretores que deveria fazer a minha contratação, resistiu afirmando que “já haviam orientais demais na área, e que não seria necessário mais uma naquele momento”. Houve também, no mesmo local, outros líderes que torceram o nariz por me considerarem nova demais e um pouco informal para trabalhar naquele ramo da indústria.
De fato, por eu trabalhar diretamente com o marketing e agências, e falar sobre os insumos, a última coisa que pensava era na importância de um tailleur para o dia a dia.
Anos depois, em outra multinacional, com a repetição das atitudes e tomadas de decisão por parte dos líderes envolvendo as equipes, vi que tinha que parar e ressignificar a minha história.
Mochilão e o entendimento das necessidades
Pedi demissão e decidi conhecer o mundo. Passei um ano viajando em esquema mochilão, com um tênis um chinelo para viver a cultura de cada local e criar novas conexões com pessoas. Quando voltei, inclusive, vi que precisava de menos para viver, tanto em bens materiais, como bolsas e sapatos, como na minha própria carreira. Este período me fez um resgate da própria essência, que achei que tinha perdido.
Voltei para o mercado encarando uma start up, com a empresa saindo do zero. Passei a viver com menos, porém foi neste período em que voltei com meu antigo companheiro, tive um bebê e passei por dificuldades de saúde.
Na época em que tive a pneumonia, passei mais tempo em casa e decidi estudar mais, porque tinha certeza de que me agregaria tanto na parte profissional, como na pessoal. De fato, fez muita diferença. Fiz um curso de formação de coaches, e já no primeiro dia percebi que o meu caminho sempre esteve traçado, só tinha a dificuldade de enxergar isso.
Nos dois anos de curso, fui entendendo que a minha função nesta terra é – e sempre foi – lidar com conexões de grupos e pessoas. Apoiar o desenvolvimento delas de maneira única e individual. Iniciei atendimentos gratuitos e, por incrível que pareça, o meu primeiro coachee foi uma pessoa que não era da minha equipe, mas de uma equipe próxima a minha. Ele me disse, na ocasião, que sempre liderei a equipe de maneira diferente, e que isso foi o fator determinante para a sua decisão em me apoiar.
Assim como fui expandindo o meu apoio às pessoas com as quais estava trabalhando o desenvolvimento pessoal, fui entendendo pouco mais sobre a minha própria experiência. No início, levava casos dos líderes que segui ao longo da vida, e ao perceber que faltava conexão com os meus próprios alunos, entendi que o que eu passei em carreira e vida pessoal tinha valor, e que isso era – e ainda é – o mais importante para que eu tenha excelência em cada consultoria que finalizo.
“Assim como fui expandindo o meu apoio às pessoas com as quais estava trabalhando o desenvolvimento pessoal, fui entendendo pouco mais sobre a minha própria experiência”
Nada é por acaso
Desde 2016 sou sócia da ADIGO Desenvolvimento, e lá atuo com grupos e atendimentos individuais. Quando despertei para a minha essência dentro do coaching, inclusive, as empresas passaram a perceber a importância deste desenvolvimento pessoal e começaram a me contatar para projetos com as equipes.
Hoje, atuo com os cursos: Formação de Líderes Facilitadores e Consultores Internos, Líder Coach Contemporâneo e em um futuro breve: Confiança e Colaboração e Vieses Inconscientes na tomada de Decisões.
No começo da pandemia, me deparei com nova situação. Os casos de racismo discutidos pelo ‘Black Lives Matter’, e os de xenofobia liderados pelo movimento ‘Stop Asian Hate’ fizeram com que eu sentisse a importância de me integrar também aos assuntos voltados para a inclusão.
Outra situação me fez refletir profundamente sobre as jornadas de lideranças que eram trazidas diante do meio do líder, descartando o universo atual e as demandas de atualização do mercado. Em uma das empresas em que apliquei o desenvolvimento, percebi que uma diretora, que era filha e irmã de militares, transpunha seus ensinamentos pessoais nas tomadas de decisão.
Neste momento passei a adentrar o universo dos Vieses Inconscientes, que impactam – e muito – ainda as corporações nas tomadas de decisão. No próximo Setembro, inclusive, lançarei meu primeiro curso sobre ‘Vieses Inconscientes na tomada de decisões’. Entendi que é importante que os líderes tomem consciência de seus Vieses Inconscientes, através de sua biografia, para que decisões sejam tomadas de maneira mais assertiva.
Para finalizar, deixo aqui a pergunta: Como são as suas tomadas de decisão? Quais são os atributos essenciais para sua palavra final? Eles podem vir do seu inconsciente de vivências? Quando refletimos e fazemos balanço da nossa vida, tudo faz sentido nas aplicações do futuro.