Jair Moggi
Consultor, Professor e Coach
Shadow Coaching é uma modalidade de coaching que está começando a chegar ao país. Tivemos algumas experiências bem interessantes com ela.
Na prática, como ela funciona:
O coach acompanha in loco o coachee no seu ambiente do dia a dia em situações como:
- Apresentações de projetos;
- Reuniões de tomada de decisão com a equipe;
- Reuniões com seus pares;
- Encontro de avaliação de desempenho com funcionários;
- Participação em workshops e oficinas, convenções;
- Em um dia ou conjunto de dias típicos de trabalho.
O coach acompanha, como observador, a “performance” do coachee nestes cenários reais e pode lhe dar feedback imediato ou promover sessões de reflexões e aprendizagem com os eventos ainda quentes ou mesmo posteriormente.
As vantagens desta abordagem são inúmeras.
Permite você trabalhar com o que de fato acontece e não com aquilo que o coachee diz que acontece. Você sai de uma dimensão de interpretação dos fatos para uma dimensão em que você tem que lidar com o fato em si.
Os bloqueios do coachee aparecem de maneira clara quando ele é confrontado com as observações de um coach isento ao evento em si.
Permite você trabalhar com reações, atividades que muitas vezes têm um impacto significativo no resultado e que não tem como serem identificados numa sessão tradicional. O tom irônico, a palavra desqualificadora, a postura corporal agressiva ou defensiva, etc.
As dificuldades com o processo são óbvias também. Lembrando do princípio da incerteza de Heisenberg. O observador afeta o fenômeno pelo simples fato de estar ali. A própria presença do coach no cenário altera o comportamento do coachee e da sua equipe se, por exemplo, ele está observando uma reunião.
Na prática, a impressão que se tem do ponto de vista do coach é que, na maioria das vezes, depois de algum tempo, as pessoas “esquecem” que o coach está ali e se comportam de maneira muito próxima ao natural.
Outra dificuldade é como você introduz a prática na cultura da organização. Tenho clientes que trabalham com processos de coaching há muito tempo e a prática já está integrada na empresa. “Aliás, pega até mal você não ter o seu coach”. As pessoas têm orgulho de dizer que estão fazendo coaching.
Introduzir a prática do Shadow Coaching, nestes casos, é tranquila. O executivo aponta o coaching para a equipe, se necessário explica o papel e o nosso coach pode passar o dia ou eventos específicos à “sombra” do executivo, sem maiores consequências.
Em empresas em que a prática de coaching é associada a mal desempenho ou existem problemas sérios na gestão, o executivo não se sente confortável.
O melhor cenário para se promover a prática é quando o presidente a introduz com ele e sinaliza para a organização que quer cuidar do seu autodesenvolvimento e que a prática que está ativa é a esperada dos seus executivos.
O shadow coaching exige do coach uma grande capacidade de observação de detalhes e de compreensão do coachee dentro do seu contexto e cultura. Para observar e descrever o que se observa também existem técnicas e modelos específicos. O coach precisa manter uma relação de isenção profunda para não contaminar a observação com seus valores, crenças, antipatias e simpatias.
O shadow coaching pode ser um excelente complemento ao processo de coaching tradicional. Ele permite ao coach fazer perguntas de confronto bem interessante. Por exemplo:
Nesta reunião com sua equipe, você falou 90% do tempo e sua equipe 10%. O que isso lhe diz?
- Você interrompeu o cliente oito vezes em 15 minutos. Isto tem alguma consequência?
- Você falou com seu funcionário sem tirar os olhos do computador. Como você acha que ele se sentiu?
- Doze pessoas entraram na sua sala esta manhã e interromperam seu trabalho. Como isto afeta a sua produtividade?
A reflexão permite o aprendizado imediato e, logo na sequência, na reunião seguinte ou dia seguinte, o coachee pode implementar mudanças e novamente corrigir/ajustar seu comportamento com ajuda do coach.
A perspectiva é que à medida que a prática de coaching como um todo vá se disseminando, o shadow coaching vai vencendo a principal barreira, que é a crença de muitos executivos que não podem mostrar fraquezas ou que estão aprendendo.
Imagino que o shadow coaching deve se tornar bastante comum em alguns anos, nas empresas que querem que suas lideranças aprofundem seus processos de aprendizagem e desenvolvimento de lideranças.
Excelente! A maior dificuldade na minha percepção quando vc está em processo de mudança é receber feedback . Ter alguém que te mostre de fato, com honestidade e respeito onde você falha e o que vc precisa mudar…. sem julgar, fantasiar ou ameaçar. Achei um método muito importante que possibilita ampliar a consciência com exemplos claros e na prática, mostrando para o coachee de forma respeitosa os comportamentos que exigem de fato mudança! Adorei!
Patricia, sem dúvida desenvolver uma cultura onde o feedback se faz presente é um desafio que, quando realizado, torna-se aliado do processo de mudanças.