A diversidade, de gênero ou de outra natureza, é essencial para as empresas. Ela é capaz de promover um ambiente de trabalho saudável, no qual as pessoas sentem-se incluídas e representadas. Um ambiente com diversidade favorece a troca de experiências entre diferentes perfis profissionais, o que contribui para o aumento da produtividade e inovação.
Além de contribuir para uma sociedade mais igualitária, ter uma força de trabalho diversa pode elevar a competitividade da empresa. E esta diversidade só se sustenta e gera resultados positivos na empresa se estiver representada na sua liderança.
É dentro deste contexto que eu gostaria de falar de algo que vivi, desenvolvi e estimulei ao longo da minha carreira: Liderança Feminina.
Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, através de estudos realizados em empresas que monitoram o impacto da equidade de gênero obtém crescimento de 5% a 20% nos lucros. Ainda assim, existe ainda muita desigualdade de gênero nas empresas, especialmente quando falamos de cargos de liderança. Se fizermos um recorte no chamado “alto escalão” esta desigualdade aumenta ainda mais.
Sim, temos muitas conquistas a comemorar!
A pesquisa* “Mulheres na Liderança 2020”, realizada pela WILL – Women in Leadership in Latin America – em parceria com o Instituto Ipsos nos mostra algumas delas:
Sem dúvidas os números mostram avanços. Me lembro em 2011 quando iniciei as primeiras discussões sobre liderança feminina na empresa multinacional onde atuava, como líder da área de Desenvolvimento e Ambiente de Trabalho. Um programa internacional veio da matriz europeia e causou muito estranhamento, inclusive nas mulheres (e em mim). Tínhamos baixa consciência de que a desigualdade de gênero existia, da importância de combatê-la e principalmente dos nossos próprios vieses inconscientes no tema. Veja que estou voltando somente dez anos no tempo, pois olhar para esta questão desde o início da minha carreira merece um artigo à parte! 😉
Dez anos depois e muito avançamos. Porém, comparado ao tamanho do abismo que separa as oportunidades entre homens e mulheres, temos ainda muito a caminhar.
Diversos estudos recentes (mencionados na bibliografia no fim do artigo) explicitam as barreiras enfrentadas pelas mulheres antes de chegarem às posições de liderança:
E olha que já melhorou heim!! Porque levamos anos para aumentar um ou dois pontos percentuais nestes índices?
Porque as barreiras para ascensão das mulheres nas organizações começa pelo machismo estrutural e ancestral presente em nossa sociedade, e desemboca em questões cotidianas. A jornada dupla de trabalho e o equilíbrio entre carreira e família ainda são vistos por muita gente como papéis exclusivamente femininos e trazem uma sobrecarga que torna a evolução na carreira um alvo difícil de acertar para as mulheres. Adicionalmente existe o “senso comum” de que mulheres são frágeis e portanto incapazes de liderar objetivamente e obter resultados em alta performance. Ou a crença de nós mulheres nos saímos melhor em posições de back office, suporte e cuidado.
O meu ponto aqui é: a mulher se sai bem onde ela quiser, no caminho que ela escolher! Podemos ser práticas e racionais enquanto mantemos a empatia e a compaixão, o que nos abre um leque enorme de possibilidades. O meu segundo ponto aqui é que, infelizmente, nem sempre lhe é dada esta opção.
A historiadora e escritora Mary Beard, em seu livro “Mulheres e poder: um manifesto”, nos diz: “Não se pode, com facilidade, inserir as mulheres numa estrutura que já está codificada como masculina; é preciso mudar a estrutura”. Esta frase ilustra a importância da inserção de mulheres em cargos de liderança. É através dela que conquistamos a equidade em todos os níveis.
Por onde começar?
A ONU Mulheres e o Pacto Global definiram os Princípios de Empoderamento das Mulheres, para orientar empresas a implementar políticas e práticas que concretizem a igualdade de gênero. Há inclusive uma versão que adequa os princípios à realidade brasileira. São apresentados sete fundamentos:
- Estabelecer uma liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, desde o mais alto nível;
- Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação;
- Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa;
- Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres;
- Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing;
- Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social;
- Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero.
Atributos da Liderança Feminina
Existe um motivo para as empresas que possuem maior equidade de gênero obterem melhores resultados: porque as mulheres trazem qualidades diferentes e complementares à dos homens.
Homens e mulheres quando presentes na liderança, de forma equilibrada, oferecem perspectivas sociais diferentes nos processos decisórios.
A liderança feminina traz outras qualidades, que mudam o panorama das organizações segundo diferentes pesquisas*:
- Mulheres se adaptam mais rápido às mudanças, e podem lidar mais facilmente com os obstáculos inerentes aos processos de transformação.
- A comunicação feminina costuma ser mais empática, o que abre espaço para relações mais profundas e duradouras.
- Em momentos de crise e tomada de decisão, mulheres líderes tendem a ser mais sensíveis aos impactos sobre a equipe e portanto manejam a situação com compaixão e interesse genuíno nas pessoas, enquanto buscam soluções.
- Mulheres geralmente têm sua inteligência emocional mais desenvolvida, construindo excelentes equipes de trabalho, altamente engajadas e sem perder de vista os resultados.
- Naturalmente as mulheres possuem a capacidade de agir em muitas direções e lidar com diferentes temas ao mesmo tempo sem perder o foco, o que se torna uma vantagem competitiva.
Neste momento você pode estar pensando: Ah! Mas nem toda mulher e nem todo homem são iguais!! Concordo com você!
Por isso, cada vez mais para mim faz sentido falar em atributos de natureza feminina ou masculina, que podem ser desenvolvidos independente do gênero, e são complementares, forjando assim uma liderança mais humana.
Bibliografia
- https://www.latamwill.org/mulheres-na-lideranca/
- https://hbr.org/2020/12/research-women-are-better-leaders-during-a-crisis
- https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2019/06/empresas-com-lideres-femininas-tem-resultados-ate-20-melhores-diz-onu.html
- https://ohiocpa.com/for-the-public/news/2018/09/04/women-adapt-to-new-tech-faster-than-men
- https://fia.com.br/blog/lideranca-feminina-nas-empresas/
- https://exame.com/revista-exame/mulheres-no-topo-2/
- https://pactoglobal.org.br/noticia/212
Livros recomendados:
- Mulheres e poder: Um manifesto. Beard, Mary. Editora Crítica.
- As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres. Ana Isabel Álvarez Gonzalez, Ed. SOF/Expressão Popular