A Célula como modelo de organização
Autor: Jair Moggi
Editora Gente
Como desenvolver o espírito de liderança, o trabalho em equipe e o comprometimento de maneira inovadora? Isso é o que você vai ver neste livro, que traz uma proposta de gestão pioneira, calcada na independência de cada membro da organização e na consciência da potencialização das qualidades essenciais aos vencedores.
A cada dia que passa, mais e mais as empresas são comparadas a seres vivos, que têm gravada na sua essência, no seu DNA, a capacidade de sobrevivência, crescimento e perpetuação da espécie.
Os seres vivos são intuitivos, flexíveis, inteligentes e fortemente mobilizados pelos impulsos do ambiente externo. São extremamente adaptáveis, reagem com prontidão instintiva por estar conectados ao mundo interno e externo e estão em constante processo de aprendizagem e transformação, sem perder sua identidade básica.
São essas as características organizacionais ou os diferenciais competitivos definitivos que as empresas estão procurando incorporar ao seu dia-a-dia para fazer frente aos desafios da competitividade e da globalização. Mas, como incorporar nas empresas essas características orgânicas dos seres vivos ?
Este livro, de forma inovadora, partindo de imagens naturais e arquetípicas do menor componente de qualquer ser vivo, a célula, e dos fenômenos envolvidos num processo decisório empresarial orgânico, explica numa linguagem simples e objetiva o conceito de gestão celular, trazendo insights poderosos para a transição de estruturas hierárquicas para estruturas organizacionais planas ou em “teias”.Ao longo do livro,
Jair Moggi nos convida a deixar para trás fórmulas ultrapassadas e nos apresenta o modelo celular, que é participativo e não autoritário, traz uma visão global do negócio em vez da visão focada e incorpora as dimensões de eficácia e de busca da excelência. As questões apresentadas neste livro vão, com certeza, inspirá-lo a trabalhar com estes novos conceitos no seu dia-a-dia. Boa leitura !
Entrevista com o autor
Qual a vantagem do modelo celular na gestão empresarial?
Jair Moggi – Quando as empresas trabalham com base nos princípios do modelo de gestão celular, incorporam na cultura empresarial qualidades e características típicas de um ser vivo, respondendo com agilidade e flexibilidade às necessidades do mundo externo. Usam a intuição com a razão nas decisões e enfrentam as dificuldades de forma criativa. Isto acontece, porque o modelo celular possibilita condições de sobrevivência e crescimento em um ambiente de competitividade acelerada, à semelhança dos seres vivos que fazem isso ao longo de todo o seu processo evolutivo.
Uma das vantagens, também, é criar condições para que o modelo de gestão da empresa sofra uma brutal transformação saindo do paradigma de: primeiro planejar, depois executar e na seqüência controlar. Cria, assim, condições para que estas ações sejam realizadas simultaneamente – essa é uma característica intrínseca de todo organismo vivo – resultando daí saltos quânticos e não apenas melhorias adicionais, em termos de resultados quantitativos para os negócios e qualitativos para o processo de desenvolvimento individual e coletivo em todos os níveis da organização. Contribui, ainda, para a revitalização do ambiente de trabalho, que se torna mais humano e motivador, reduzindo o estresse e potencializando a aplicação de todos os recursos utilizados nos processos produtivos. É possível criar oportunidades concretas para o real aprendizado existencial individual e organizacional, revelando novos talentos, novas habilidades e agregando novas competências.
Por quê comparar a célula humana com os sistemas de gestão empresarial e com a maneira dos membros das equipes trabalharem?
Jair Moggi – Os seres vivos se caracterizam, entre outros aspectos, por apresentar processos vitais simultâneos para que seus objetivos possam ser atingidos. Desde que nasce até a sua morte, o ser vivo está em um constante processo de transformação, sem perder a sua identidade básica mantendo o objetivo de sobreviver, crescer, reproduzir e se perpetuar. É por essa razão que os seres vivos passam a ser, cada vez mais, um paradigma para modelos de gestão, pois é fácil verificar que algumas de suas qualidades predominantes jamais estarão presentes em modelos organizacionais baseados em princípios de rigidez que negam a vida, como a hierarquia tradicional ou os modelos mecanicistas de gestão. Por esse motivo, a antiga maneira de agir expirou.
As pessoas podem ser flexíveis e tem capacidade de regeneração. Além disso, reage rapidamente aos impulsos externos, aprende, adapta-se rapidamente ao meio, é interdependente, está sempre conectado com outros organismos externos. Assim, um modelo que apenas vise a obediência cega e a estabilidade a qualquer custo, não tem sucesso, principalmente, hoje.
O modelo celular pressupõe, como condição básica, que as pessoas sejam respeitadas, amplamente envolvidas e informadas nas questões e ações de suas áreas de atuação, de forma rítmica e organizada. O incentivo ao contato face a face faz com que a empresa saia do paradigma da mera informação para a comunicação verdadeiramente humana. Esta medida propicia um clima de mais confiança e alinhamento entre as pessoas e grupos.
Como desenvolver a flexibilidade no ambiente empresarial?
Jair Moggi – Para entender e operacionalizar o modelo de gestão celular é preciso pensar a organização como uma estrutura de processos e de fluxos de energia em vez de pensá-la como estrutura hierárquica típica. O modelo de gestão em células é uma imagem dinâmica das ações que acontecem simultaneamente dentro da organização, com seus ritmos, movimentos e dinâmicas próprias. Portanto, não é uma receita pronta. É uma mudança na forma de pensar. Para podermos pensar o Modelo Celular, a melhor maneira é esquecer por alguns instantes tudo que aprendemos da gerência científica e tentar seguir, sem preconceitos, uma nova maneira de gerir a empresa e os suas formas de gestão. Essa é a grande diferença dos modelos tradicionais.
O modelo celular consegue suprir a necessidade do fomento da criatividade que se tem hoje?
Jair Moggi – Alguém já disse que “a empresa são as pessoas, o resto são prédios, máquinas, sistemas, processos que apodrecem e se desatualizam constantemente”. No momento em que essa verdade é assumida, muda-se completamente a abordagem ao tratar os problemas de uma organização e o fenômeno da relação empresa-pessoas, já que não se lida mais com um organismo frio, rígido, apático, distante da realidade e das pessoas (características essas, que são as maiores assassinas da criatividade individual e coletiva no mundo empresarial).
A Gestão Viva vê o ser humano como uma entidade integrada com os reinos mineral, vegetal, animal e com o próprio cosmos. Um dos pressupostos é que as organizações, formadas basicamente por indivíduos, são também entidades vivas, com pensamentos, sentimentos e vontade – e como as pessoas – têm possibilidade de crescer, desenvolver-se e realizar seus potenciais de forma criativa.
Algumas profissões, cargos e funções já desapareceram, outras estão sendo reinventadas e outras, ainda, surgirão. Como agir no mercado hoje, o modelo celular facilita essa perspectiva e a adaptação aos novos tempos?
No Brasil, estatísticas do ministério do trabalho já indicam que entre dez brasileiros com curso superior, sete não exercem atividades ligadas as funções para as quais se prepararam. O mesmo fenômeno, com maior ênfase acontece nas profissões não especializadas em toda cadeia de produção. Um dos princípios do modelo celular é à busca da polivalência das pessoas que compõem uma célula de trabalho. Isso implica em dizer que a empresa deve criar cultura e condições para que as pessoas se especializem sim, na sua competência básica sem fazer disso a razão de carreira para uma vida toda, como era no passado.
Já foi o tempo que as pessoas ficavam fazendo cursos de especialização ao longo da vida para no final perceber que passaram a vida “sabendo sempre mais do mesmo e de um mesmo que não tem mais lugar no mundo”. Os novos tempos exigem pessoas que, além de ter uma sólida formação em vertentes do conhecimento clássico de natureza técnica ou humana, tenham simultaneamente um profundo compromisso com o conhecimento capaz de habilitá-las a navegar em diversos campos do conhecimento e principalmente, novos palcos profissionais.Outra recomendação é que as pessoas desenvolver conhecimentos e habilidades de natureza diversa nas frentes artística ou holística.Isso, com certeza, prepara as pessoas para fazer aquilo que ainda não existe ou no mínimo as prepara criando repertórios e referenciais que estimulam a criatividade e facilitam a transição para realidades pessoais e profissionais que ainda nem imaginamos como serão.
O que mudará no ambiente organizacional, agora? Como conviver com o clima de insegurança que paira no ar?
Jair Moggi – O mundo empresarial está passando por transformações brutais impactando a vida pessoal e profissional de todos que trabalham para qualquer tipo de organização, quer sejam organizações com finalidade lucrativas ou não. O tempo é cada vez mais escasso. A pressão por resultados e criatividade é muito maior, os referenciais do passado já não servem mais e o confronto com questões éticas e morais na vida política, econômica, social é uma constante. Gerando estresse, ansiedade, sentimento de impotência, etc.
Todos nós sabemos que precisamos de um espaço interno para nos relacionar adequadamente, tanto com os próprios movimentos internos da nossa alma perante os acontecimentos do mundo, como com esses próprios acontecimentos de forma objetiva. A partir desse espaço interno, podemos olhar a nós mesmos e ao mundo com uma qualidade e uma força diferentes do que estamos acostumados. Quando fazemos isso, os próprios acontecimentos se mostram sob um aspecto totalmente diferente a partir desse espaço interno. A criação deste espaço é possível: a atividade meditativa nos permite desenvolver isso e ao mesmo tempo nos permite perceber os caminhos para enfrentar muitos problemas. Essa é a forma que vejo para conviver com a turbulência que veio par ficar e tende a aumentar.
É importante ressaltar aqui que quando falo em atitude meditativa não falo em atitude contemplativa ou passiva, mas na meditação ativa que leva a uma pensar, a um sentir e a um querer consciente permeado por sabedoria, que age e interfere no mundo de forma objetiva e criativa.
Como fica o papel da Liderança nesse contexto?
Jair Moggi – Em relação aos cargos de liderança é importante enfatizar que o papel do líder mudará completamente exigindo deles novos atributos e exigências de natureza mais sutil através da constante preocupação com o auto desenvolvimento e auto-avaliação honesta, a necessidade de aprender a ficar e de lidar consigo mesmo através de um processo meditativo que pode cria condições para o surgimento de novas características de liderança como: carisma, ver o invisível e ouvir o inaudível, inspirar pelo exemplo, usar os sentimentos seus e das outras pessoas como dados para gestão, intuição, manter a tranqüilidade no olho do furacão, tirar tendências de situações caóticas e paradoxais saber equilibrar os aspectos quantitativos e qualitativos de uma ação empresarial e da sua vida pessoal, sensibilidade para o que é relevante e agir com genuíno interesse pelas pessoas.
Como continuar no mercado de trabalho, numa época de desempregos? Você acredita que haja lugar para todos?
Jair Moggi – Algumas recomendações: ter uma constante preocupação com atualização profissional, prática do networking autêntico e ter um profundo processo de ®desenvolvimento emocional e espiritual que garantem a coragem para levar o barco devagar como fazem os velhos marinheiros no médio de uma tormenta.
Como é sabido, um barco no meio de uma tempestade não pode ficar de lado senão ele vira. A proa do barco tem estar voltada para o olho do furacão, para a origem da turbulência, para poder vencê-la ou administrá-la com segurança. A força interior para fazer essa travessia vem de dentro, daquilo que se chama valores universais; como por exemplo: amor, verdade, bondade, beleza, liberdade, cooperação, fraternidade, consciência, igualdade, esperança, fé, ética, realidade, compaixão, coragem, solidariedade, respeito à vida, gratidão e responsabilidade pelo todo.
Há lugar para todos sim, precisamos é acreditar que as coisas não dependem mais de entidades superiores como era no passado (a igreja, o governo, a empresa, o padrinho, etc…). Esse lugar tem que ser buscado e criado individualmente a partir da vontade interior de cada um, com base nos valores acima e nas vocações. E talentos que trazemos para esse mundo. Isso tem dado certo, tem dado lucro e tem feito sentido para muitas pessoas no mundo dos negócios.
Tantas exigências “na vida profissional e pessoal” não causam uma certa síndrome do super-homem, que ninguém pode suprir? Como trabalhar melhor essa questão?
Jair Moggi – O processo meditativo individual, como já disse, é a alternativa mais adequada para que possamos enfrentar essas novas exigências pessoais, profissionais e planetárias, pois a meditação, seja ela de que linha for, nos conecta à nossa individualidade, criando condições para aceitar ou suplantar nossos limites.
É interessante notar que empresários e executivos que, de uma forma genuína, começam a aplicar processos orgânicos de gestão, como o preconizado neste livro, começa a despertar para um trabalho interior mais profundo, o que os capacita a desenvolver negócios centralizados na responsabilidade social e na cidadania.