Quiet Quitting, Quiet Cracking e o Papel da Liderança na Saúde Mental

Pode parecer papo de tendência corporativa, mas por trás das expressões “quiet quitting” e “quiet cracking” existe uma realidade poderosa e, muitas vezes, dolorosa. Elas não são apenas jargões do RH ou modinhas das redes sociais; são os novos termômetros que medem a temperatura da relação entre o profissional e a empresa. Para quem se propõe a praticar uma liderança humanizada e com alma, o papel não é apenas o de entender os conceitos, mas ir a fundo nas suas causas e, principalmente, agir com coragem e empatia.

Vamos mergulhar de cabeça nessa conversa?

O que de fato está acontecendo?

Muita gente já ouviu falar, mas a diferença entre esses dois fenômenos é crucial. E ela mora na intenção e no impacto.

  • Quiet Quitting (Demissão Silenciosa) é a resposta ao esgotamento. Imagine um atleta de alta performance que, de repente, decide parar de treinar nos finais de semana. Ele continua entregando resultados na competição, mas se recusa a sacrificar sua vida por um jogo que não valoriza todo o seu esforço. Isso é o quiet quitting. É um limite que o profissional impõe conscientemente, uma rebelião silenciosa contra a cultura do “sempre mais”. O foco aqui é autoproteção. O profissional diz: “Eu faço meu trabalho com excelência, mas não serei explorado além da minha descrição de cargo.” Muitas vezes é um ato de força pessoal, uma nova regra no jogo que muitos de nós estamos aprendendo a jogar. O motivo? Burnout, desvalorização salarial, falta de propósito e o sentimento de que o crescimento profissional já não compensa a perda da qualidade de vida.
  • Quiet Cracking (Rachadura Silenciosa) é o grito que ninguém ouve. Este é um cenário ainda mais perigoso. Diferente da demissão silenciosa, o quiet cracking não é uma escolha, mas sim uma consequência devastadora de um ambiente de trabalho quebrado. A rachadura começa quando o profissional se sente invisível, isolado ou sem perspectivas. A pessoa não está se protegendo; ela está, silenciosamente, se quebrando por dentro. O entusiasmo desaparece, a iniciativa some, e a participação em reuniões se torna algo mecânico. É como se a alma do colaborador, sua essência, estivesse rachando. A criatividade e a paixão — que não podem ser forçadas — simplesmente escorrem por essa fissura. Os gatilhos? Falta de reconhecimento genuíno, exclusão de projetos importantes, promessas não cumpridas ou um clima tóxico que drena toda a energia.

A Liderança que Transforma: o Antídoto em três pilares

A pergunta que fica é: como a gente muda esse jogo? Como a liderança pode atuar? Não é com discursos inspiradores, é com ação. Com coragem e empatia.

Pilar 1: Diagnóstico empático A primeira atitude não é resolver, mas observar. Observe além dos números de produtividade, ficar atento aos sinais. Olhe para a linguagem corporal, para o nível de participação em reuniões, para as interações com o resto da equipe. O profissional que está “rachando” geralmente para de dar sugestões, de interagir com as pessoas, de mostrar o brilho nos olhos. Crie o hábito de fazer check-ins individuais e personalizados. A ideia não é fiscalizar, mas sim perguntar: “Como você está, de verdade? O que eu, como seu líder, posso fazer para te ajudar?”

Pilar 2: Ação estruturada. Depois de entender, é hora de agir. Uma liderança efetiva não apenas ouve, ela oferece soluções práticas:

  • Reconhecimento Intencional: Vá além do “bom trabalho”. Seja específico e sincero. Reconheça o esforço, não apenas o resultado. Diga: “O jeito como você resolveu aquele problema de forma ágil e inteligente foi crucial para o projeto. Obrigado.”
  • Transparência com Propósito: Combata a sensação de exclusão. Seja transparente sobre as decisões da empresa e o motivo por trás delas. Quando a equipe entende o porquê, a confiança e a sensação de pertencimento aumentam.
  • Construa caminhos, não Paredes: A principal causa do quiet cracking é a estagnação. Sente-se com cada membro do time e co-crie um plano de carreira. Ofereça cursos, mentorias ou a oportunidade de liderar um projeto.

Pilar 3: A Cultura. A transformação mais profunda acontece no nível cultural. Construa um ambiente onde o erro é uma oportunidade de aprendizado, e não um motivo para punição. É aqui que a empatia entra em jogo. Mesmo que você não consiga atuar na mudança direta da cultura da empresa, você sempre pode, como líder, cuidar da cultura que cria na sua área junto com sua equipe.

A Liderança que se importa

Precisamos entender a ligação direta entre o ambiente de trabalho e a saúde mental. A ansiedade, a depressão e o esgotamento que levam ao quiet quitting e cracking não são meros caprichos. São sinais claros de que a máquina corporativa está sobrecarregando o sistema humano.

Uma liderança humanizada não ignora esses sinais. Ela age. Ela oferece suporte, incentiva o uso de benefícios de saúde mental e normaliza a conversa sobre vulnerabilidade. Ser um líder forte hoje é ter a coragem de ser vulnerável e criar um espaço onde sua equipe também possa ser.

Não se trata de produtividade. Se trata de humanidade. Cuidar de um time é construir, tijolo por tijolo, uma base sólida de confiança, valorização e cuidado. É a sua chance de ser a força que impede que as rachaduras se tornem desmoronamentos.

E você, o que tem feito para fortalecer as paredes e cuidar das rachaduras do seu time? Compartilhe sua experiência nos comentários!

Fernanda-Mendes - Adigo ConsultoriaFernanda Mendes
Sócia e consultora da ADIGO. Consultora Organizacional e Coach Executiva, especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional, Gestão de Mudança, Liderança e Cultura.

Envie um e-mail para Fernanda Mendes.

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