A geração Z quer líderes autênticos. Mas o que isso realmente significa?

Mais do que carisma, a nova geração quer uma liderança autêntica, que escute, se vulnerabilize e crie espaços onde qualquer indivíduo possa existir com inteireza.

Vivemos um tempo em que a palavra “autenticidade” circula com frequência nas redes, nas conversas de trabalho e até nas descrições de vagas. A geração Z, jovens entre 20 e 30 anos que estão ingressando (ou já ocupando) posições de impacto nas organizações, traz esse chamado com força: querem líderes autênticos, coerentes e humanos. Mas o que, afinal, significa essa autenticidade que tanto se espera?

Ao longo da minha trajetória, liderando formal e informalmente, e sendo liderada por grandes organizações multinacionais, conduzindo processos de mudança e escutando equipes de diferentes territórios, fui entendendo que autenticidade não é sobre expor tudo de qualquer maneira, e menos ainda sobre suavizar o que se sente. É sobre sustentar quem se é, ainda que os ambientes ainda não estejam 100% preparados para essa verdade.

Para mim, liderar com autenticidade é alinhar pensamento, sentimento e ação. É quando o que eu defendo nas reuniões está conectado com o que eu carrego na minha história e com o que entrego no dia a dia. Isso não se constrói com carisma. Se constrói com coragem.

A nova geração e a nova escuta

A geração Z cresceu em um mundo em crise: climática, política, relacional. Não se satisfaz com discursos institucionais vazios. Busca sentido existencial no trabalho e espera que seus líderes expressem algo verdadeiro, não só em palavras, mas em presença. Isso exige dos líderes uma escuta mais profunda, uma postura mais inteira.

Eles valorizam quem se interessa genuinamente pelo outro. Rejeitam a liderança baseada no controle, no distanciamento ou na performance emocional sem verdade. Preferem quem é imperfeito, mas verdadeiro. Quem inspira pelo que é e não pelo que finge ser.

Quando a autenticidade vira performance

Com a popularização do termo, cresce também o risco da autenticidade performada. Quando a vulnerabilidade vira recurso estratégico para parecer acessível, e não expressão genuína de um Eu consciente. Quando um líder compartilha fragilidades sem autodomínio, pode gerar mais insegurança do que conexão. Quando fala tudo o que pensa sem escuta nem intenção, confunde franqueza com falta de responsabilidade.

Eu nasci na década de 70 – como costumo falar em minhas interações com clientes, eu entendo que faço parte de uma geração que já nasceu devendo. Eu devia notas altas, bom emprego, e bom comportamento: cumprir ordens sem reclamar. Em um dado momento da minha trajetória me dei conta de que felicidade para mim transcende o que conquistei no mundo exterior, mas está associada à possibilidade de ser quem eu sou, de ter esta inteireza que a geração Z demanda. Autenticidade não se improvisa, é fruto de prática interna, silêncio, escuta. Não é liberdade sem limite. É liberdade com consciência. Uma liderança autêntica se ancora em profundidade e autoconhecimento – não em carisma.

O que é ser autêntico, afinal?

Autenticidade, transparência e vulnerabilidade são palavras próximas, mas não sinônimos.

Na prática:

  • Ser autêntico é ser coerente consigo mesmo.
  • Ser transparente é comunicar com verdade e responsabilidade.
  • Ser vulnerável é admitir limites próprios sem perder a inteireza.

Uma liderança autêntica sabe que nem tudo precisa ser dito, mas tudo o que for dito, precisa ser verdadeiro.

A confiança nasce no silêncio

Mais do que discursos emocionantes, o que sustenta a confiança de uma equipe é a
coerência silenciosa: líderes que escutam de verdade, que mantêm a palavra, que se colocam de forma honesta mesmo em meio à incerteza e que aceitam imperfeições, suas e de seu time.

A geração Z percebe rapidamente quando há dissonância. E se afasta. Por isso, mais do que aprender a “falar a linguagem dos jovens”, as lideranças precisam olhar para dentro e se perguntar: há verdade no que estou dizendo? Há escuta no que estou fazendo? Estou sendo coerente?

Como cultivar uma liderança com raiz

Construir uma liderança autêntica não é um atalho. É um caminho contínuo. E alguns exercícios ajudam a trilhá-lo:

  • Meditação e silêncio interior: para escutar o próprio Eu.
  • Trabalho biográfico: para compreender a história que se carrega.
  • Formação integral: que envolva mente, corpo, alma e ação.
  • Revisão do dia: para perceber incoerências e reconhecê-las.
  • Busca ativa de feedback: para enxergar as oportunidades de desenvolvimento.

A imagem da árvore pode ilustrar esse processo. Suas raízes são o autoconhecimento; o tronco, sua força moral; os frutos, os resultados visíveis da coerência interna. Uma árvore autêntica não precisa dizer que dá sombra. Ela simplesmente dá.

Um caminho que também transforma quem lidera

Liderar a geração Z e, mais ainda, liderar no nosso tempo, exige disposição para algo profundo: transformar-se tanto quanto se espera que o outro transforme. É isso que torna a liderança autêntica tão desafiadora. E também tão bela.

Porque liderar com verdade é, no fundo, um ato de coragem. É reconhecer-se humano e, ainda assim, escolher servir com presença e intenção. E talvez a pergunta que fique, para quem lidera pessoas formal ou informalmente, seja essa:

Você está disposto a se transformar tanto quanto espera que o outro mude?

Patrícia Brito
Sócia da Adigo e consultora em cultura, estratégia e empresas familiares. Com experiência em grandes organizações e repertório internacional.

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